The Adventures of a Trailing Spouse

Saturday, May 23, 2009

Vo

No dia das maes la no hospital, eu e minha avo.


La fui eu fazer a viagem pro Brasil mais dificil. Fui avisada no dia 1 de maio de manha que minha avo de 96 anos tinha caido a toa e fraturado o colo do femur. No dia 2, sabado, depois de falar com ela pelo telefone e ela me dizer que estava preparada pra cirurgia e que eu ficasse tranquila, tive um sentimento que se eu nao fosse pra la nao ouviria mais ela falar comigo ao vivo com aquela lucidez. Tiramos a passagem, arrumei a mala correndo, ainda sai pra comprar presente pra minha mae - afinal depois de 10 anos eu ia passar um dia das maes com a minha mae. Pra minha avo, eu ja tinha um presente do Tabitha. No momento que eu resolvi ir, ja comecei a chorar e chorei o dia inteiro, em casa, no aeroporto, na sala de espera, no aviao. Eu tinha certeza pra que eu estava indo.

Os dias nao foram faceis, ela era razoavelmente independente e se viu numa cama de hospital sem poder se levantar pra nada, obedecendo ordens, ficando confusa pelos medicamentos e por estar confinada num quarto de hospital (comum em idoso), alem de ter dores pela fratura, pela posicao na cama, e depois pela cirurgia, etc. Tambem reclamava de estar feia, onde ja se viu sem sutian, o que a deixava "achatada", sem batom e sem brincos. Minha avo era vaidosa sem exageros, mas nao ia na esquina sem brincos, sempre de pressao, nao sei porque nunca se animou a furar as orelhas.

No dia das maes, levei flores pra ela, o que fez ela abrir um sorriso, fato raro nesses dias. Aproveitei pra tirar essa foto dizendo que minhas amigas em Cingapura iam querer conhece-la. No dia seguinte, eu mesma que percebi que alguma coisa nao estava bem e chamei a plantonista. Ela estava apresentando complicacoes e foi pra UTI. Bem comum na idade dela e com esse tipo de fratura. No outro dia, fui autorizada a entrar em horario nao de visita ja que sou medica. Mesmo nao trabalhando mais, um privilegio que nessas horas eh bemvindo. Ai ela ja estava pessima. Como idosos pioram tao rapido... Fiquei 1 h la com ela, de maos dadas, fazendo carinho nos cabelos brancos e pensando, vo, aguenta... To aqui fazendo carinho pela Ana Luisa, pelo Gabriel e por todo mundo mais... Mas eu sabia o que vinha pela frente.

Naquele dia, 25 anos depois que meu avo morreu, minha avo foi embora. Eu disse que ele deve ter dado um prazo pra ela, 25 anos e chega. Eles nao eram um casal comum pra epoca deles. Minha avo trabalhou toda a vida e se aposentou. Meu avo ajudava nas tarefas domesticas, limpava e cozinhava quando necessario. So tiveram minha mae de filha, o parto foi complicadissimo. Ele era completamente apaixonado por ela, e ela por ele. Nos achamos que ela nem ia resistir quando ha 25 anos atras, ele saiu pra correr na praia e nao voltou. Sim, aos 72 anos ele corria. E parecia ter uns, sei la, varios anos a menos. Mas ela resistiu, deu a volta por cima. Quando eu engravidei da Ana Luisa, ela dizia que queria muito estar viva pra conhecer a bisneta. Depois que queria ver ela andar... E viu que ela vai entrar na Universidade daqui a 2 meses e mais 3 bisnetos nasceram e cresceram. No hospital, ela ainda me disse, eu sei que estou velha, mas ainda nao queria morrer... O que eh a vontade de viver.

Queria ter o dom de escrever bonito, mas isso aqui eh uma homenagem a minha avo do meu jeito. Aquela que me deu o prazer de ainda ter avo lucida ate os meus 48 anos, dos meus filhos terem conhecido amor de bisavo por tanto tempo, e por todo o carinho e forca nesses anos.